A quinta edição da Sessão Canteiro apresenta a produção de Nino Cais. Será apresentado um conjunto de cinco vídeos realizados ao longo dos dois primeiros decênios dos anos 2000. Ao final da exibição, o curador Diego Matos conduzirá uma conversa em que o artista irá compartilhar um pouco de sua pesquisa nesta mídia.
Os trabalhos abordam uma temática recorrente na trajetória do artista: as relações entre corpo e objeto, subjetividade e objetividade. Contudo, aquilo que, em acepção filosófica moderna, era marcadamente cindido – sujeito incondicionado e objeto empírico do conhecimento – perde a nitidez de suas fronteiras e cismas nos trabalhos de Nino Cais. Os objetos do cotidiano e o corpo do artista se imiscuem, borrando a aparente reciprocidade de seus limites. O artista, desse modo, subverte os termos da equação moderna através de uma tônica contemporânea: o sujeito, na figura do artista, se objetifica. O que era objetividade empírica se subjetiviza. Objetos inertes deixam de ser um amontoado de moléculas, ganham alma, memória e sentimento. O que era frieza metálica ou porcelânica se aquece. O corpo, envolto por um emaranhado de objetos, se enrijece. Entra em inércia e resfria. É ferro, é ouro.
Assim, não é de se espantar que, certo dia, Valter Hugo Mãe tenha outorgado a Nino Cais o título de Midas às avessas, aquele que "concede alma àquilo que coloca a mão". Contudo, em tons de provocação, diríamos que resta um ligeiro espanto nos apelos do literato à física quântica. Espanto que reside em sua tentativa (mesmo que cheia de ressalvas) em conceder à física o prazer de desnudar "a inteligência da matéria", já "operada" por Nino com Maestria.
Para nós – menos sofisticados que o escritor, ignorantes em assuntos de mecânica clássica e quântica, pobres e às vezes nem mesmo honestos – pouco importa o que os físicos têm a dizer. Pois, se há, na história humana, um campo que sempre foi capaz de desvendar os mistérios e agruras da inteligência da matéria, esse campo é o da Arte e, nele, Nino Cais é Maiastra. (texto: Mateus Moretti)
Data: 06.09.23
Horário
19 h - abertura das portas
20 h - exibição (pontualmente)
Buscando preservar o caráter da apresentação, as portas serão fechadas às 20 h, não sendo permitida a entrada após este horário.
Evento gratuito
Horário
19 h - abertura das portas
20 h - exibição (pontualmente)
Buscando preservar o caráter da apresentação, as portas serão fechadas às 20 h, não sendo permitida a entrada após este horário.
Evento gratuito
Intervalo, 2014
Maiastra, 2016
sem título, 2008
sem título, 2005
Caminhando, 2004
Nino Cais (São Paulo, Brasil, 1969) possui, possivelmente, uma das mais variadas produções da arte contemporânea brasileira, não só em termos de materiais, - de fotografias, desenhos e colagens a esculturas, vídeos e vestimentas - mas também por sua ampla abrangência de discursos poéticos e narrativos. O artista cria um universo intermediário entre o mundo cotidiano, que fornece a matéria-prima para as obras, e um ambiente fantasioso, com raízes ficcionais baseadas na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Nino Cais corta, cola, costura, desenha, está dentro e fora da obra, é personagem e autor, seus trabalhos se manifestam num tempo e espaço suspenso, reconhecível, porém pouco explorado pelo espectador, tão perto e tão longe ao mesmo tempo que sua estranheza é acolhedora.
Realizou exposições individuais na Fridman Gallery, Nova Iorque, EUA [2018]; Casa Triângulo, São Paulo, Brazil [2017]; Central Galeria, São Paulo, Brasil [2015] e Gachi Prieto Gallery, Buenos Aires, Argentina [2015]. Entre as exposições coletivas estão AQUI ESTOU, Museu Nacional da República, Brasília, BR [2023], Poema a Dois | Cartas Queimadas, Residência Fonte, São Paulo, BR [2021], Against, Again: Art Under Attack in Brazil, Anya and Andrew Shiva Gallery, Johnfoy College, Nova Iorque, EUA [2020]; O que meu corpo sabe: Fotografias em fricção nas coleções EAV Parque Lage e Memória Parque Lage, EAV Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil [2019]; Waving and Wavering, Maryland Art Place, Baltimore, EUA [2018]; Ação e Reação, Casa do Brasil, Setor Cultural da Embaixada do Brasil, Madrid, Espanha [2018]; Queermuseu - cartografias da diferença na arte da brasileira, Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil [2017], e participou da 30º Bienal de São Paulo. Suas obras fazem parte de coleções públicas como as do Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil, entre outras.
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A Sessão Canteiro é um programa periódico de exibição de Videoarte e Vídeo-performance.
As projeções acontecem no estúdio com tratamento acústico do Canteiro, o que oferece uma condição especial de apreciação dos vídeos, permitindo uma verdadeira imersão nos ‘tempos’ específicos de cada trabalho; o efêmero de uma performance documentada, a eternidade morosa de uma obra que desafia a resistência do público, ou até a brevidade de um vídeo relâmpago.
Desta forma o Canteiro reafirma sua vocação como espaço autônomo dedicado a sediar, discutir e circular trabalhos nestas mídias.
A programação é feita pelos artistas Guta Galli, Marcelo Amorim e Ivan Padovani ou por curadores e artistas convidados.