"Pedi um sonho": 
Exposição celebra dez anos G>E_grupo maior que eu_
No início da primavera de 2013, a artista Karlla Girotto abriu as portas do seu ateliê para artistas que compartilhavam o desejo de experimentar e criar novas possibilidades de mundo. Desses encontros nasceu o G>E - grupo maior que eu.  Desde então 400 artistas passaram pelo grupo, 41 deles estarão presentes na mostra e na programação que celebra os dez anos de vida e atividade do grupo.
Em setembro de 2023 o G>E_grupo maior que eu_ celebrou dez anos de existência. É uma data que convoca a memória, os afetos, sonhos e desejos de algo que acontece entre o passado e o presente – sendo o futuro um ponto temporal e uma potência que só precisa ser liberada, devolvendo o tempo cósmico à força da vida.
Com esta exposição e programação, celebramos o grupo e suas/seus integrantes, as/os que foram e as/os que permanecem. Comemoramos a permanência e a insistência no tempo; comemoramos a imaginação como forma de compreender e se lançar ao futuro e àquilo que não éramos capazes de vislumbrar, mas que percebíamos em nossas corpas como um estado potente a garantir a vida e o dia seguinte.
Pedi um sonho é o título da exposição. Pode-se acrescentar e (ele é coletivo) e (ele é maior do que eu). Pedi um sonho não especifica quem pede e nem a quem se pede. O exercício é a abertura radical para o que pode se apresentar, nem material nem imaterial, um entre que relaciona as forças e as formas da vida que nos acostumamos a circunscrever como arte. Quem pede algo pode igualmente convocar, evocar, invocar.
Convocar é chamar junto, coletivamente, utilizar a voz de muitas/os para o mesmo fim. Evocar pode tanto ser presentificar algo pelo exercício da memória e/ou da imaginação quanto chamar algo invisível, fazendo com que apareça (fenômeno sobrenatural). 
Invocar significa pedir a proteção de seres ou forças divinas, sobrenaturais; ou, ainda, pedir ajuda a amigas/os.
Para os efeitos desta exposição, todas estas palavras conduzem a fins específicos, mas que se relacionam com o que estamos tratando aqui.
O G>E se dedicou a ser campo e contexto para a criação de saúde coletiva, trabalhando para a vivência de outras temporalidades e experiências com e a partir das manifestações no corpo. Colocou ênfase em ser um grupo de artistes que não objetivam ter uma obra, mas fazer do campo e do contexto a própria obra – o que amplia as possibilidades de se fazer obra, ao contrário de eliminar ou reduzir.
Em Pedi um sonho, apresentamos nosso campo, nosso contexto e também as nossas obras. Composta por 42 artistes que compõem o G>E/2023 em suas múltiplas linguagens e transdisciplinaridades:
Ádima Macena, Alexandre dos Anjos, Amanda Raielly, Ana Biolchini, Ana Carolina Videira, Bru Figueiredo, Camila Gomes, Cristina Totti, Elisa Paiva, Estefânia Verreschi, Fabiana Faleiros, Fernanda Gomes, Fernanda Morais, Flávia Lhacer, Gal Gruman, Giovanna Giordano, Isabella Alves, Isabella Santos Lanave, Julia Saldanha, Juliana Brito, Juliana Curi, Juliana França, Juliana Ronchesel, Karlla Girotto, Laís Dguloz, Lala Barros, Laura Artigas, Leandro Castro, Louise Bezerra, Luara Macari, Mariana Guimarães, Marta Pires, Nadya Librelon, Nathalia Favaro, Otávio Barata, Renata Lamenza, Rey Silva, Robertha Blatt, Tamires Salazar, Teté Martinho, Tif Assandrie Zaira Tarin.
A exposição Pedi um sonho é curada, editada e produzida pelas/os próprias/os integrantes do G>E_grupo maior que_ a partir de Grupos de Trabalho formados espontaneamente. 
Grupo de Curadoria: Fernanda Gomes, Juliana França, Juliana Ronchesel, Julia Saldanha, Karlla Girotto, Luara Macari, Marta Pires, Otávio Barata.
Grupo de Produção: Bru Figueiredo, Gal Gruman, Giovanna Giordano, Juliana Brito, Karlla Girotto, Otávio Barata, Rey Silva.
Grupo de Design e Divulgação: Ádima Macena, Amanda Raielly, Isabella Alves, Karlla Girotto, Laura Artigas, Nadya Librelon, Zaira Tanin. 
Grupo de Produção de Textos: Fabiana Faleiros, Karlla Girotto, Luara Macari, Otávio Barata, Teté Martinho. 
O que é o G>E_grupo maior que eu
É um núcleo de estudos e pesquisa em arte e criação criado pela artista Karlla Girotto em 2013. Desde então, permanece sendo conduzido por ela.
O grupo emerge do desejo de construir um ambiente de experimentação propício a novas maneiras de produção e encontro. Tem como base o interesse comum em desmantelar narrativas hegemônicas e produzir subjetividades ético-político- estéticas.
As discussões são efeitos em movimento de leituras, sobretudo provenientes do sul global e feministas. Cada participante traz a própria produção para discussão no grupo em variadas mídias e linguagens.
As produções se manifestam por meio de uma política da imaginação. A palavra política diz respeito a como organizar recursos, práticas, espaços e a vida partilhada; imaginação comunica o desejo de formar ideias e fabricar mundos, procurando os meios necessários para manter as potências de criação vivas e
buscando posições ativas para estabelecer estas forças no mundo. Territórios e subjetividades são construídos numa dinâmica completamente aberta e viva que une o trabalho de cada participante ao cotidiano do grupo.
Os programas fixos incluem encontros semanais e coletivos; acompanhamentos individuais com a artista; e o G>E de Peito Aberto, que recebe artistas para debater processos e criação.
Ao longo dos últimos anos passaram pelo G>E mais de 400 artistes.
Programação semana 18/novembro a 26/novembro – estúdio do Canteiro
Permanente – cozinha e área social Ocupa Canteiro (2023), de Tamires Salazar.
Permanente – estúdio exibição de trabalho em vídeo Fundo (2021), de Juliana França.
Fundo é um mergulho no campo de contradições que envolvem a imagem, o corpo, a realidade e a ficção. O artifício do chroma key, frequentemente usado para substituir lugares e reposicionar o corpo no espaço, aqui é usado como recurso para suprimir parte da informação visual criando uma experiência de falta, de buraco. Nesse vazio abre-se um espaço para imaginação e encontro com o invisível, treino cognitivo e, ao mesmo tempo, desejo de tocar o futuro de uma espécie e um mundo em pleno ciclo distópico e vertiginoso de transformação.
Permanente – estúdio exibição de trabalho em vídeo Venus Flytrap (2022), de Otávio Barata.
O curta é um monólogo em que o artista Otávio Barata explica suas diferentes relações com outros homens, assim como sua relação com a própria masculinidade; ao mesmo tempo que apresenta ao público fotos – censuradas com tinta vermelha – que recebeu através de aplicativos de pegação.
Dia 18 – sábado – 18h00 exibição do filme Tecer mulher terra (2021), de Mariana Guimarães.
Tecer mulher terra, 2021 (34min), apresenta o encontro da artista e pesquisadora Mariana Guimarães com mulheres artesãs têxteis durante uma pesquisa de campo no interior do Brasil em 2018, em seis diferentes estados. O vídeo é apresentado a partir de uma multiplicidade de vozes e gestos, e narrado a partir da leitura do caderno de campo da pesquisadora e suas impressões sobre as relações da mulher artesã, a terra e o fio. A pesquisa foi construída a partir dos encontros e teve como objetivo a escuta, as trocas, os registros de suas vozes para a construção de uma cartografia sobre suas práxis em diálogo com a pesquisa e poética da artista.
Dia 18 – sábado – 19h00 roda de conversa com Isabella Alves, Juliana Ronchesel e Mariana Guimarães.
A agulha e o fio são tecnologias ancestrais – uma conversa sobre os fazeres têxteis com ênfase em Brasil e América Latina.
Dia 19 – domingo – 17h00 performance Há boca virada pra terra (2022), de Fabiana Faleiros
Antes daqueles que são considerades do espectro da espécie humana se moverem com dois pés sobre a terra, pélvis e esfenóide (osso que fica no cérebro) tinham uma conexão horizontal. Quando deixam de ser quadrúpedes, a relação entre esses dois ossos se torna vertical, e tudo muda. Com instrumentos musicais imaginários, a performance busca uma afinação entre a boca de baixo e a boca de cima.
Dia 19 – domingo – 18h00 filme Tentei (2017), de Laís Melo, seguido de bate-papo com a diretora.
Tentei trata da coragem da protagonista, uma coragem conquistada que foi se fazendo aos poucos conforme a angústia tomava o corpo.
Em certa manhã, Glória, 34 anos, parte em busca de um lugar para voltar a ser.
Dia 23 – quinta – 20h00 performance Não chores mais (2022), de Karlla Girotto
Não chores mais é uma performance palestra.
A artista discute acontecimentos de sua vida pessoal ao lado de acontecimentos políticos e históricos. O corpo e o gênero são centrais e indicadores de produções performáticas que refletem aspirações culturais e sociais e carregam o lastro do patriarcado, a fim de circunscrever algumas experiências femininas – em especial o riso e o choro – como amostras da histeria, da loucura e da desvalidação de identidade e de subjetividade.
Dia 24 – sexta – 20h00 exibição do filme Flux (2019), de Nathália Favaro e Miki Yui seguido da performance palestra Desvio para o trabalho com a artista Nathália Favaro.
        O curta (25min) é um ensaio poético, traçando a jornada da Nathalia pela Floresta Amazônica Brasileira e os encontros dela com os protagonistas da floresta e do rio Amazonas. Todas as histórias circulam ao redor do fluxo de energia: o ciclo do carbono e da água. Esses elementos são não só nossa primeira fonte de vida como também regulam a condição do planeta. O meio ambiente é uma síntese de todos os fatores, incluindo a nós mesmos.
O filme questiona a nossa visão da vida neste planeta em sua entidade e convida a audiência a aprender sobre vida na sua verdadeira forma: em fluxo.
A palestra performance Desvio para o trabalho tem como partida o filme Flux, dirigido e produzido pela própria artista em parceria com a artista Miki Yui – propondo um hackeamento e uma rasura no próprio trabalho.
Pelas palavras de Nathalia, “Flux conta a história da minha viagem pela Amazônia, as pessoas que conheci nesse trajeto e é um trabalho feito em colaboração com uma artista germânica. Durante sua edição, feita a distância, senti que houveram muitas negociações e, uma delas em especial, me parece insustentável e coloca em evidência o caráter colonizador das negociações com instituições europeias que costumam prover capital para a cultura: a de ter um homem, branco, europeu, explicando tecnicamente o fenômeno que é a floresta. Conseguimos a entrevista e as imagens com ele, que tem acesso à torre de observação ATTO (Torre Alta de Observação da Amazônia).
Hoje, decido refazer esse trecho com a minha própria voz.
Entendo que o trabalho de arte é repetição. Repetir-se constantemente, inúmeras vezes, de diferentes maneiras.” 
Dia 24 – sexta – 22h00 Festa Telepática a Rigor (2021-2023), da artista Juliana França com participação de Fabiana Faleiros e Karlla Girotto + convidades
Esse é um convite para celebrar o tempo comum em um lugar imaginado. Festa. Colocar a roupa de ir e dançar junto a partir de uma imaginação coletiva radical. Percepção como criação, ficção como fricção e imaginação como política. Nesse encontro à distância, a ficção telepática se torna um instrumento de invenção de um corpo (futurista) que se potencializa em comunicação. O interesse é pelo outro e por uma dança que possa acontecer ENTRE. ENTRE! Para abraçar o mistério, a magia, o inexplicável e a invenção de corpos e mundos em um delírio coletivo tropical.
Juliana França + Karla Girotto + Fabiana Faleiros
Sexta feira dia 24 às 22h00 
Dress code: festa
Link-convite mediante e-mail: contato.cruzo@gmail.com
Dia 25 – sábado – 18h00 ­performance Lembranças de terra (2023), de Camila Gomes
As raízes arrancadas ainda carregam a memória da terra? Quando um povo tem seu território, seus nomes, sua língua, apagados, pela exploração de minérios, cacau, mão de obra, é possível ressignificar essas raízes? Tento refazer o ritual de minha bisavó: trançar. E trazer de volta nossa língua, o caminho percorrido por ela, minha avó e suas irmãs e irmãos, para fora do território de origem.
Dia 25 – sábado – 19h00 ­exibição do documentário Uýra: A Retomada da Floresta (2022), de Juliana Curi, seguido de bate-papo online com a diretora.
Uýra, uma artista trans indígena, viaja pela floresta amazônica em uma jornada de autodescoberta usando arte performática e mensagens ancestrais para ensinar jovens indígenas e enfrentar o racismo estrutural e a transfobia no Brasil
Dia 26 – domingo – 16h00 exibição do documentário O ponto firme, de Laura Artigas, seguido de roda de conversa com a diretora e integrantes do projeto.
O filme acompanha o processo criativo da primeira coleção de roupas de crochê do projeto social dirigido pelo estilista Gustavo Silvestre, desenvolvida por homens dentro de uma penitenciária paulista.
Serviço
Abertura: dia 18/novembro/2023 das 14h00 às 22h00
Encerramento: dia 16/dezembro/2023 14h00 às 18h00

Back to Top